segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Deixou-nos um Homem Bom! Um Coração de Ouro! Um Sábio Professor e Mestre Partiu !!!

Deixou o Mundo Melhor
Do que o encontrou!
(Foto do Semanário Correio da Feira de 29 de Agosto de 2011)
DESAPARECIMENTO PRECOCE DE 
UMA DAS GRANDES FIGURAS DA CULTURA SANTAMARIANA
EXCERTO DO SEMANÁRIO  CORREIO DA FEIRA
de 29 de Agosto de 2011
( Com a devida vénia)
“O nosso professor Baltazar”
ROBERTO CARLOS
Baltazar Oliveira, nasceu na freguesia de Escapães em 23 de Outubro de 1949
e faleceu vítima de doença prolongada em 26 de Agosto de 2011.
Ingressou como docente de Trabalhos Manuais no ano lectivo de 1968/69 na Escola Preparatória de Ovar. 
Seguiu-se S. João da Madeira. No ano de 1973 cumpriu o Serviço Militar em Angola. Regressou para leccionar na Escola Preparatória Henrique Veiga de Macedo (hoje actual nº 2 da Feira. Seguiram-se as Escolas Preparatórias de Matosinhos, S. João da Madeira, Oliveira de Frades, novamente Feira, Paços de Brandão e desde 1993/94 EB 2/3 Fernando Pessoa até se aposentar em 1 de Abril de 2003.
Desde cedo ligado ao tecido associativo, que muito lhe era querido, serviu instituições como a Terça-feira, o C. C. R. Orfeão da Feira (CCROF), o C. D. Feirense, a Tuna dos B. V. S. João da Madeira, a Confraria da Fogaça, a Associação de Artesãos das Terras de Santa Maria, o e B. V. Feira (membro da Direcção e Bombeiro) entre outras. Foi autarca no executivo presidido por Horácio Sá.
Conheci o Professor Baltazar na Escola Preparatória hoje EB 2/3 Fernando Pessoa na disciplina de trabalhos manuais (velhos tempos), onde cada aluno construía os seus próprios jogos de damas e xadrez, as raquetes de ping-pong, as miniaturas do castelo, etc. e  também incentivava à participação por exemplo nas Mini-Olimpíadas, fazendo jus a mens sana in corpore sano.
Mais tsartde os caminhos cruzaram-se na Orquestra Ligeira doo Orfeão da Feira, com o professor Baltazar a assumir desde logo, a dinamização do projecto cujo núcleo inicial integrou as violinistas Susana Fernandes e Carla Barros, seguindo-se Saudade Campos e Mafalda Campos. Dentre os elementos masculinos, refira-se o Luís Paranhos e Rui Ferreira. Dirigia o jovem maestro Rui Ferreira; nos concertos públicos, a apresentadora era Luísa Figueiredo, sendo eu próprio produtor de som e de luz, e o responsável pela comunicação da Orquestra. Recordo o quanto o Professor Baltazar era avesso às luzes da ribalta, preferindo o trabalho de apoio, tão importante como ir buscar músicos ao Vale, a Louredo ou a Loureiro para os ensaios e para os espectáculos.
Ainda no âmbito do trabalho desenvolvido no CCROF por Baltazar Oliveira, destaco a criação do primeiro ATL da Feira (Actividades Tempos Livres), numa lógica de intervenção comunitária, e consequentemente o enriquecimento e divulgação cultural das crianças participantes.
Como autarca dinamizou um conjunto de actividades culturais, promovendo o Presépio de Natal da Cidade, a geminação com Santa Maria da Feira de Beja e incentivou as Férias Desportivas.
Como artista, desde cedo que o professor Baltazar Oliveira, se dedicou à escultura concebendo medalhas comemorativas (por exemplo a do XXXVIII Congresso dos Bombeiros e do Bi-Centenário das Invasões Francesas), moedas de recriações his- tóricas (quantas vezes conversámos sobre o tipo de moeda adaptado a um determinado reinado), estátuas, troféus; bustos, monumentos, castelos, pratos comemorativos... enfim uma infindável lista de peças artísticas que estão nas mãos de milhares portugueses. Quem não se recorda das conversas infindáveis sobre as questões da cidade do concelho e da cidade em ambiente de tertúlia, em que, de repente estava já a rabiscar o esboço de uma medalha ou de um monumento num guardanapo de papel?
Nunca deixava de colaborar com todas as instituições que lhe batiam à porta, mesmo que isso lhe trouxesse prejuízos materiais.
Os seus trabalhos estão  dispersos um pouco de Norte a Sul. Em S. João da Madeira, deixa-nos o “Monumento ao Sapateiro’ colocado na rotunda da Praça 25 de Abril; o Monumento “Unhas Negras’ junto ao Museu da Chapelaria; o Monu- mento à “Mulher Sanjoanense’ situado nos jardins da Praça Barbezieux e a estátua “João Paulo II’ todos naquela cidade vizinha.
No Concelho da Feira, destaco o Monumento aos “Dadores de Sangue’ em frente ao hospital de S. Sebastião, na sede do concelho. Segundo o escultor “Os pilares representam a força de toda uma população, cuja grandeza espiritual fez nascer 38 locais de recolha, susceptíveis de aumentar nas 31 freguesias do concelho, representadas pelas camadas de blocos sobrepostos, que tornam o pilar da direita, traduzindo a estrutura cívica, altruísta do seu povo. O pilar da esquerda simboliza a Associação de dadores, enquanto corpo, como invólucro do espírito que sem sangue, morre” Estes dois pilares fazem um ângulo entre si, num abraço/convite a todos aqueles que querem continuar a agradecer e a fortalecer a dádiva benévola de sangue.
O valor do sangue — garante da própria vida — é posto em relevo pelo tubo que simboliza veia humana, e pela gota, que representa o sangue. Dominado a parte central do monumento, o coração simboliza as gentes do concelho de Santa. Maria da Feira, que, dando recebem a maior das dádivas: a vida, condensada no tubo de ensaio, cujo conteúdo é constante, mas renovável, graças á generosidade dos dadores benévolos de sangue de Santa Maria da Feira’
Outro que salientamos é o Monumento da Cerci-Feira, que revela a imagem da criança e o envolvimento de toda a sociedade “no abraço permanente, que foca a solução para muitos problemas. Segundo o escultor “através do Estado, a Cerci presta apoio a essa mesma criança, com a intenção que ela tenha um mundo melhor. A cabeça da criança, no monumento, é o mundo. Evoca, ainda, os 25 anos da instituição e a ideia da Cerci em levar a criança até ao fim, sem abandoná-la em momento algum, dado que os pais não estão presentes’ releva.
Destaco ainda o Monumento ao Ciclista em S. João de Ver, lembrando a angústia permanente do escultor para conceber o Monumento ao Ciclista, num concelho com seis vencedores da Volta a Portugal e largas dezenas de campeões, mas cujo resultado final se traduz numa expressão que simboliza o esgar de dor, a dedicação, o sacrifício, quando o ciclista sobe, por exemplo, a etapa mais exigente da montanha.
Da sua autoria temos ainda o busto de Carlos Ferreira Soares que integra um monumento da autoria de Jorge Oliveira em Nogueira da Regedoura. Foi descerrado por Almeida Santos em 6 de Julho de 2009, 67 anos depois de Carlos Ferreira Soares ter sido alvejado com 14 balas, pela PIDE. O Busto que perpetua memória do médico Carlos Ribeiro, nas Caldas de S. Jorge, numa homenagem nos 34 anos da sua morte, em 6 de Setembro de 2009, é outra das obras existentes no Concelho da Feira.
Para além destas obras, existem monumentos da sua autoria em muitos Quartéis de Bombeiros do nosso País e respectivas cidades, sendo exemplo disso Pombal, com
o Monumento aos Bombeiros, um memorial que fica para os tempos vindouros, como traduz a inscrição registada no Monumento: “Homenagem às gerações passadas, presentes e futuras”
Numa entrevista publicada por este Jornal na edição 5728 de 01 de Agosto deste ano, o Professor Baltazar salientava que “em tempo de dificuldades para muitas famílias, só no concelho da Feira há mais de 9 mil pessoas sem emprego, Baltazar Oliveira apelava à união., “Fui sempre um animador social. E, já, uma vida ao lado das associações. Preocupa-me o futuro das associações culturais. Se entrarem numa paragem de realizações, se reduzirem as suas actividades, temo que isso seja mau para muitas pessoas do concelho’
No fundo, considerava que indubitavelmente movimento associativo é “crucial para quebrar os problemas que as pessoas trazem dos empregos, as obrigações de todos os dias.
As casa abertas da cultura feirense servem para convívio, para desabafar, para os feirenses se soltarem e deitarem cá para fora o que os aflige. Nem sempre valorizamos a importância das colectividades, mas elas são cruciais e espero que nada disso seja posto em causa, no futuro, pelas dificuldades financeiras”.
Exemplos disso mesmo, são as escolas de música, os grupos corais, as associações desportivas, os ranchos, os escuteiros. “Quanto mais olhamos para trás e analisa-mos os nossos erros, melhor vivemos no futuro. Não podemos entrar na onda do pessimismo, de rostos deprimidos, angustiados, tristes. Há que dar as mãos, como mostro no monumento dos Dadores de Sangue. Em todos os trabalhos, deixo uma mensagem, que faça interrogar as pessoas’ garante Baltazar Oliveira. Actualmente era membro da Comissão Organizadora do Centenário do Orfeão da Feira, sendo o autor do Monumento evocativo da efeméride.
Tinha em mente um espaço intergeracional, no qual crianças, jovens e seniores pudessem desenvolver actividades e profissões já desaparecidas ou em vias de desaparecer.
Apesar desta figura Santamariana ser avessa a homenagens, consideramos que o Professor Baltazar, merecerá uma homenagem póstuma, nem que seja com uma simples referência na Toponímia da Cidade que tão bem serviu.

 “Defendia com unhas e dentes tudo aquilo em que acreditava”
ÂNGELO PEDROSA
 O comandante Eduardo Neves privou, durante anos, com Baltazar Oliveira, nos Bombeiros Voluntários da Feira. “Ele serviu a esmagadora maioria das associações, instituições, não só da sede do concelho. Em boa hora a direcção liderada por Alcides Branco chamou-o para director dos bombeiros”, diz.
Pouco tempo passou, mas para o “professor Baltasar, era sim que era tratado, já não chegava ser director. Ele quis vestir a farda de bombeiro e vestiu-a com muita honra e honrou a instituição”, acrescenta.
Pessoa simples e que “sempre cativou pelas atitudes”, defendia “com unhas e dentes tudo aquilo em que acreditava. No caso dos Voluntários da Feira, ele assumiu-se, quase, como um embaixador da instituição junto das pessoas que não conheciam o nosso trabalho. Sempre defendeu, com unhas e dentes, todos aqueles que envergavam a farda de bombeiro e quem se dedica a proteger as populações das freguesias do nosso concelho’ ressalva.
Há situações que “jamais vou esquecer. Momentos passados, também, com o comandante Marques, o adjunto Teixeira, o adjunto Dr. António Pinho que marca- ram profundamente e que revelaram o que era o professor Baltazar e a forma como ele servia as casas por onde passava”.
Em várias ocasiões, a última na gala do centenário, o Centro de Cultura e Recreio do Orfeão da Feira “tentou homenagear o professor Baltasar, mas ele não compare- ceu, porque nunca procurou protagonismos. Sentia-se feliz por aquilo que fazia. A sua simplicidade, humildade, fazia com que não gostasse daqueles momentos de glória e de agradecimento. A sua alegria era interior e preferia ficar longe dos holofotes da visibilidade”, releva Márcio Correia, presidente da direcção do Orfeão.
Trata-se de um “grande feirense, um homem que conheci desde que nasci. Muitos leitores não sabem, mas era vizinho dele. Desde muito pequeno que assisti às suas construções, às suas ideias. Para quem não conhece, o professor Baltazar pegava num famoso guardanapo de café, onde desenhava grande parte dos monumentos, que hoje orgulham a nossa cidade, o nosso concelho e outros municípios da região”.
Em “momento algum esqueço que este feirense foi um dos maiores responsáveis pelo gosto que hoje tenho pelo movimento associativo, porque ele nasceu e viveu para o nosso concelho. Sempre transmitiu uma dedicação, um olhar pelas coisas que se passaram em Santa Maria da Feira e alguém opinava, de forma construtiva, pelos assuntos do concelho”, acrescenta o presidente da direcção da instituição que se encontra a comemorar 100 anos de existência.
No funeral, realizado anteontem a partir da Misericórdia, não faltaram os autarcas de Santa Maria da Feira de Beja, pela ligação que sempre foi mantida com o professor Baltazar Oliveira.
Testemunho do Senhor Presidente da Câmara de Santa Maria da Feira
o Senhor Alfredo Henriques.
LAMENTO A PERDA PARA O CONCELHO
Convidado pelo Correio da Feira a pronunciar-se acerca do desaparecimento do Prof. Baltazar, Alfredo Henriques recordou o vizinho escapanense “que conhecia desde criança. Teve sempre um papel activo em Escapäes. Depois, com o casamento, mudou-se para a sede do Concelho, alcançando então uma maior projecção social e cultural a partir daí’. Frisando ainda as qualidades auto-didácticas que se repercutiram no movimento associativo, declarou que “era uma pessoa muito dedicada ao Ensino e um autodidacta que se afirmou. Creio que a maioria das associações do Concelho lhe devem muito, porque ele estava sempre pronto para colaborar”, acrescentou.
Num plano institucional, o presidente da câmara sublinhou “o valor do trabalho de dedicação do Prof. Baltazar ao movimento associativo, em claro benefício para a cultura concelhia”.

MEMÓRIA E RECONHECIMENTO
(ainda  do Semanário Correia da Feira de 29 de Agosto de 2011)
Poucos a conheciam como Baltazar da Silva Oliveira, mas referir, tão só, “Professor Baltazar”, era a chave para entrar no universo de um homem da cultura, multifacetado e sensível, que, como escultor deixa obra pública por toda a região.
Figura carismática e incontornável do movimento associativo, o escapanense também se envolveu na vida autárquica, com passagem assinalada pelo executivo da Junta de Freguesia de Santa Maria da Feira. Sempre cordato, era um conciliador, por excelência, espécie de dissuasor de tensões que levava para o seu relacionamento publico boa parte da matriz afectiva com que marcava os seus alunos, de quem era amigo; às vezes, confidente... O Município, a Cidade a Escola e o movimento Associativo, contraíram uma dívida para com a memória do “Professor Baltazar”. E se esta é, no todo, impossível de pagar, pode (e deve ser assumida e honrada.
À Família enlutada, o “Correio da Feira”expressa as mais sinceras e respeitosas condolências.
 “Fui sempre um animador social”
Figura do movimento associativo, conhecido pela criatividade e capacidade de trabalho, o escultor Baltazar Oliveira procurava sensibilizar a comunidade, em cada desafio que abraçava. Cada trabalho era feito a pensar nas gerações futuras de Santa Maria da Feira...
Convidado a pronunciar-se sobre os trabalhos que tem patenteados no Concelho, começou por explicar a filosofia do monumento da Cerci-Feira, falando da “imagem da criança e do envolvimento de toda a sociedade no abraço permanente, que foca a solução para muitos problemas. Só o conseguimos com esse esforço colectivo, sem deixar ninguém de fora”, constata então. “O trabalho mostra a família e a comunidade que a rodeia. Através do Estado, a Cerci presta apoio aquela mesma criança, com a intenção que ela tenha um mundo melhor. A cabeça da criança, no monumento, é o mundo. Evoca, ainda, os 25 anos da instituição e a ideia da Cerci em levar a criança até ao fim, sem abandoná-la em momento algum, dado que os pais não estão presentes”, releva ainda.
Define como “marcante” a mensagem conduzida pelo Monumento da Associação de Dadores Benévolos de Sangue, colocado próximo do Hospital de S. Sebastião.
Constituído por dois pilares, formados por dois blocos de cimento
armado, cobertos com placas de granito e aparentemente separados um do outro, o da esquerda, representa o corpo da associação, e o da direita, representa os dadores. Na parte superior do monumento erguido aos dadores de sangue feirenses, passa um tubo em “inox” com quatro metros de comprimento, que serve de eixo à rotação da gota, e suporte da simbólica luz vermelha presente na extremidade superior.
A meio, o espaço alarga-se para albergar uma peça escultórica rotativa, em bronze, que representa uma gota, tendo, no seu interior, um coração com o mapa do Concelho e, na face oposta, o nome das freguesias, envolto em duas mãos, também em bronze, num gesto de dar e de receber.
A Associação tem núcleos nas 31 freguesias do concelho e desenvolve um trabalho ímpar no país. Em 2010 voltou a registar o maior número de presenças, no cômputo de todas as instituições similares nacionais. O Prof. Baltazar empolga-se:
“Quanto maior foi a participação da comunidade, mais forte é associação”, constata.
Em tempo de dificuldades para muitas famílias, quando só no Concelho da Feira havia mais de 9 mil pessoas sem emprego, Baltazar Oliveira preocupava-se com o futuro do movimento associativo:,”Fui sempre um animador social. É, já, uma
vida ao lado das associações. Preocupa-me o futuro das associações culturais. Se entrarem numa paragem de realizações, se reduzirem as suas actividades, temo que isso seja mau para muitas pessoas do Concelho”, desabafava então.
No fundo, o movimento associativo é “crucial para quebrar os problemas que as pessoas trazem dos empregos, as obrigações de todos os dias. As casas abertas da cultura feirense servem para convívio, para desabafar, para os feirenses se soltarem e deitarem cá para fora o que os aflige. Nem sempre valorizamos a importância das colectividades, mas elas são cruciais e espero que nada disso seja posto em causa, no futuro, pelas dificuldades financeiras”, dizia ele, esperançoso, e apontando exemplos como as escolas de música, os grupos corais, as associações desportivas, os ranchos, os escuteiros... “Quanto mais olhamos para trás e analisamos os nossos erros, melhor vivemos no futuro. Não podemos entrar na ida do pessimismo, de rostos deprimidos, angustiados, tristes. Há que dar as mãos, como mostro no monumento dos Dadores de Sangue. Em todos os trabalhos, deixo uma mensagem, que faça interrogar as pessoas”, garante Baltazar Oliveira.
A terminar, não esquece que o concelho é pródigo em campeões, nas mais diversas modalidades.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Tema do 22º Domingo do Tempo Comum

 
A liturgia do 22º Domingo do Tempo Comum convida-nos a descobrir a “loucura da cruz”: o acesso a essa vida verdadeira e plena que Deus nos quer oferecer passa pelo caminho do amor e do dom da vida (cruz).
Na primeira leitura, um profeta de Israel (Jeremias) descreve a sua experiência de “cruz”. Seduzido por Jahwéh, Jeremias colocou toda a sua vida ao serviço de Deus e dos seus projectos. Nesse “caminho”, ele teve que enfrentar os poderosos e pôr em causa a lógica do mundo; por isso, conheceu o sofrimento, a solidão, a perseguição… É essa a experiência de todos aqueles que acolhem a Palavra de Jahwéh no seu coração e vivem em coerência com os valores de Deus.
A segunda leitura convida os cristãos a oferecerem toda a sua existência de cada dia a Deus. Paulo garante que é esse o sacrifício que Deus prefere. O que é que significa oferecer a Deus toda a existência? Significa, de acordo com Paulo, não nos conformarmos com a lógica do mundo, aprendermos a discernir os planos de Deus e a viver em consequência.
No Evangelho, Jesus avisa os discípulos de que o caminho da vida verdadeira não passa pelos triunfos e êxitos humanos, mas passa pelo amor e pelo dom da vida (até à morte, se for necessário). Jesus vai percorrer esse caminho; e quem quiser ser seu discípulo tem de aceitar percorrer um caminho semelhante.
LEITURA I – Jer 20,7-9
Leitura da Profecia de Jeremias
Vós me seduzistes, Senhor, e eu deixei-me seduzir;
Vós me dominastes e vencestes.
Em todo o tempo sou objecto de escárnio,
toda a gente se ri de mim;
porque sempre que falo é para gritar e proclamar:
«Violência e ruína!»
E a palavra do Senhor tornou-se para mim
ocasião permanente de insultos e zombarias.
Então eu disse:
«Não voltarei a falar n’Ele,
não falarei mais em seu nome».
Mas havia no meu coração um fogo ardente,
comprimido dentro dos meus ossos.
Procurava contê-lo, mas não podia.

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 62 (63)
Refrão: A minha alma tem sede de Vós, meu Deus.
Senhor, sois o meu Deus: desde a aurora Vos procuro.
A minha alma tem sede de Vós.
Por Vós suspiro,
como terra árida, sequiosa, sem água.
Quero contemplar-Vos no santuário,
para ver o vosso poder e a vossa glória.
A vossa graça vale mais do que a vida;
por isso, os meus lábios hão-de cantar-Vos louvores.
Assim Vos bendirei toda a minha vida
e em vosso louvor levantarei as mãos.
Serei saciado com saborosos manjares,
e com vozes de júbilo Vos louvarei.
Porque Vos tornastes o meu refúgio,
exulto à sombra das vossas asas.
Unido a Vós estou, Senhor,
a vossa mão me serve de amparo.

LEITURA II – Rom 12,1-2
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
Peço-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus,
que vos ofereçais a vós mesmos
como vítima santa, viva, agradável a Deus,
como culto racional.
Não vos conformeis com este mundo,
mas transformai-vos,
pela renovação espiritual da vossa mente,
para saberdes discernir, segundo a vontade de Deus,
o que é bom,
o que Lhe é agradável,
o que é perfeito.
ALELUIA – cf. Ef 1,17-18
Aleluia. Aleluia.
Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo,
ilumine os olhos do nosso coração,
para sabermos a que esperança fomos chamados.
 
 EVANGELHO – Mt 16,21-27
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo,
Jesus começou a explicar aos seus discípulos
que tinha de ir a Jerusalém
e sofrer da parte dos anciãos,
dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas;
que tinha de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia.
Pedro, tomando-O à parte,
começou a contestá-l’O, dizendo:
«Deus Te livre de tal, Senhor! Isso não há-de acontecer!»
Jesus voltou-Se para Pedro e disse-he:
«Vai-te daqui, Satanás.
Tu és para mim uma ocasião de escândalo,
pois não tens em vista as coisas de Deus, mas dos homens».
Jesus disse então aos seus discípulos:
«Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo,
tome a sua cruz e siga-Me.
Porque, quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la;
mas quem perder a sua vida por minha causa,
há-de encontrá-la.
Na verdade, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro,
se perder a sua vida?
O Filho do homem há-de vir na glória de seu Pai,
com os seus Anjos,
e então dará a cada um segundo as suas obras».

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Liturgia do 21º Domingo do Tempo Comum

21º DOMINGO DO TEMPO COMUM
 No centro da reflexão que a liturgia do 21º Domingo do Tempo Comum nos propõe, estão dois temas à volta dos quais se constrói e se estrutura toda a existência cristã: Cristo e a Igreja.
O Evangelho convida os discípulos a aderirem a Jesus e a acolherem-n’O como “o Messias, Filho de Deus”. Dessa adesão, nasce a Igreja – a comunidade dos discípulos de Jesus, convocada e organizada à volta de Pedro. A missão da Igreja é dar testemunho da proposta de salvação que Jesus veio trazer. À Igreja e a Pedro é confiado o poder das chaves – isto é, de interpretar as palavras de Jesus, de adaptar os ensinamentos de Jesus aos desafios do mundo e de acolher na comunidade todos aqueles que aderem à proposta de salvação que Jesus oferece.
A primeira leitura mostra como se deve concretizar o poder “das chaves”. Aquele que detém “as chaves” não pode usar a sua autoridade para concretizar interesses pessoais e para impedir aos seus irmãos o acesso aos bens eternos; mas deve exercer o seu serviço como um pai que procura o bem dos seus filhos, com solicitude, com amor e com justiça.
A segunda leitura é um convite a contemplar a riqueza, a sabedoria e a ciência de Deus que, de forma misteriosa e às vezes desconcertante, realiza os seus projectos de salvação do homem. Ao homem resta entregar-se confiadamente nas mãos de Deus e deixar que o seu espanto, reconhecimento e adoração se transformem num hino de amor e de louvor ao Deus salvador e libertador.

LEITURA I – Is 22,19-23
Leitura do Livro de Isaías
Eis o que diz o Senhor a Chebna, administrador do palácio:
«Vou expulsar-te do teu cargo, remover-te-ei do teu posto.
E nesse mesmo dia chamarei o meu servo Eliacim,
filho de Elcias.
Hei-de revesti-lo com a tua túnica,
hei-de pôr-lhe à cintura a tua faixa,
entregar-lhe nas mãos os teus poderes.
E ele será um pai para os habitantes de Jerusalém
e para a casa de Judá.
Porei aos seus ombros a chave da casa de David:
há-de abrir, sem que ninguém possa fechar;
há-de fechar, sem que ninguém possa abrir.
Fixá-lo-ei como uma estaca em lugar firme
e ele será um trono de glória para a casa de seu pai».

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 137 (138)
Refrão 1: Senhor, a vossa misericórdia é eterna:
não abandoneis a obra das vossas mãos.
Refrão 2: Pela vossa misericórdia,
não nos abandoneis, Senhor.
De todo o coração, senhor, eu Vos dou graças
porque ouvistes as palavras da minha boca.
Na presença dos Anjos Vos hei-de cantar
e Vos adorarei, voltado para o vosso templo santo.

Hei-de louvar o vosso nome pela vossa bondade e fidelidade,
porque exaltastes acima de tudo o vosso nome e a vossa promessa.
Quando Vos invoquei, me respondestes,
aumentastes a fortaleza da minha alma.

O Senhor é excelso e olha para o humilde,
ao soberbo conhece-o de longe.
Senhor, a vossa bondade é eterna,
não abandoneis a obra das vossas mãos.

LEITURA II – Rom 11,33-36
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
Como é profunda a riqueza, a sabedoria e a ciência de Deus!
Como são insondáveis os seus desígnios
e incompreensíveis os seus caminhos!
Quem conheceu o pensamento do Senhor?
Quem foi o seu conselheiro?
Quem Lhe deu primeiro,
para que tenha de receber retribuição?
D’Ele, por Ele e para Ele são todas as coisas.
Glória a Deus para sempre. Amen.

ALELUIA – Mt 16,18
Aleluia. Aleluia.

Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja
e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.


Evangelho: Mt 16,13-20
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo,
Jesus foi para os lados de Cesareia de Filipe
e perguntou aos seus discípulos:
«Quem dizem os homens que é o Filho do homem?»
Eles responderam: «Uns dizem que é João Baptista,
outros que é Elias,
outros que é Jeremias ou algum dos profetas».
Jesus perguntou: «E vós, quem dizeis que Eu sou?»
Então, Simão Pedro tomou a palavra e disse:
«Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo».
Jesus respondeu-lhe:
«Feliz de ti, Simão, filho de Jonas,
porque não foram a carne e o sangue que to revelaram,
mas sim meu Pai que está nos Céus.
Também Eu te digo: Tu és Pedro;
sobre esta pedra edificarei a minha Igreja
e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus:
tudo o que ligares na terra será ligado nos Céus,
e tudo o que desligares na terra será desligado nos Céus».
Então, Jesus ordenou aos discípulos
que não dissessem a ninguém
que Ele era o Messias.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

20º DOMINGO DO TEMPO COMUM

20º DOMINGO DO TEMPO COMUM
A liturgia do 20º Domingo do Tempo Comum reflecte sobre a universalidade da salvação. Deus ama cada um dos seus filhos e a todos convida para o banquete do Reino.
Na primeira leitura, Jahwéh garante ao seu Povo a chegada de uma nova era, na qual se vai revelar plenamente a salvação de Deus. No entanto, essa salvação não se destina apenas a Israel: destina-se a todos os homens e mulheres que aceitarem o convite para integrar a comunidade do Povo de Deus.
O Evangelho apresenta a realização da profecia do Trito-Isaías, apresentada na primeira leitura deste domingo. Jesus, depois de constatar como os fariseus e os doutores da Lei recusam a sua proposta do Reino, entra numa região pagã e demonstra como os pagãos são dignos de acolher o dom de Deus. Face à grandeza da fé da mulher cananeia, Jesus oferece-lhe essa salvação que Deus prometeu derramar sobre todos os homens e mulheres, sem excepção.
A segunda leitura sugere que a misericórdia de Deus se derrama sobre todos os seus filhos, mesmo sobre aqueles que, como Israel, rejeitam as suas propostas. Deus respeita sempre as opções dos homens; mas não desiste de propor, em todos os momentos e a todos os seus filhos, oportunidades novas de acolher essa salvação que Ele quer oferecer.

LEITURA I – Is 56,1.6-7

Leitura do Livro de Isaías

Eis o que diz o Senhor:
«Respeitai o direito, praticai a justiça,
porque a minha salvação está perto
e a minha justiça não tardará a manifestar-se.
Quanto aos estrangeiros que desejam unir-se ao Senhor
para O servirem, para amarem o seu nome e serem seus servos,
se guardarem o sábado, sem o profanarem,
se forem fiéis à minha aliança,
hei-de conduzi-los ao meu santo nome,
hei-de enchê-los de alegria na minha casa de oração.
Os seus holocaustos e os seus sacrifícios
serão aceites no meu altar,
porque a minha casa
será chamada casa de oração para todos os povos».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 66 (67)

Refrão: Louvado sejais, Senhor, pelos povos de toda a terra.

Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção,
resplandeça sobre nós a luz do seu rosto.
Na terra se conhecerão os vossos caminhos
e entre os povos a vossa salvação.

Alegrem-se e exultem as nações,
porque julgais os povos com justiça
e governais as nações sobre a terra.

Os povos Vos louvem, ó Deus,
todos os povos Vos louvem.
Deus nos dê a sua bênção
e chegue o seu temor aos confins da terra.


LEITURA II – Rom 11,13-15.29-32

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos

Irmãos:
É a vós, os gentios, que eu falo:
Enquanto eu for Apóstolo dos gentios,
procurarei prestigiar o meu ministério
a ver se provoco o ciúme dos homens da minha raça
e salvo alguns deles.
Porque, se da sua rejeição resultou a reconciliação do mundo,
o que será a sua reintegração
senão uma ressurreição de entre os mortos?
Porque os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis.
Vós fostes outrora desobedientes a Deus
e agora alcançastes misericórdia,
devido à desobediência dos judeus.
Assim também eles desobedeceram agora,
devido à misericórdia que alcançastes,
para que, por sua vez,
também eles alcancem agora misericórdia.
Efectivamente, Deus encerrou a todos na desobediência,
para usar de misericórdia para com todos.

ALELUIA – cf. Mt 4,2

Aleluia. Aleluia.

Jesus proclamava o evangelho do reino
e curava todas as doenças entre o povo.


EVANGELHO – Mt 15,21-28

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo,
Jesus retirou-Se para os lados de Tiro e Sidónia.
Então, uma mulher cananeia, vinda daqueles arredores,
começou a gritar:
«Senhor, Filho de David, tem compaixão de mim.
Minha filha está cruelmente atormentada por um demónio».
Mas Jesus não lhe respondeu uma palavra.
Os discípulos aproximaram-se e pediram-Lhe:
«Atende-a, porque ela vem a gritar atrás de nós».
Jesus respondeu:
«Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel».
Mas a mulher veio prostrar-se diante d’Ele, dizendo:
«Socorre-me, Senhor».
Ele respondeu:
«Não é justo que se tome o pão dos filhos
para o lançar aos cachorrinhos».
Mas ela replicou:
«É verdade, Senhor;
mas também os cachorrinhos
comem das migalhas que caem da mesa de seus donos».
Então Jesus respondeu-lhe:
«Mulher, e grande a tua fé.
Faça-se como desejas».
E, a partir daquele momento, a sua filha ficou curada.